terça-feira, 21 de outubro de 2014

COLUNA


120 anos de uma grande obra: Caxambu
Parte III

Sobre as fontes
O Dr. Monat reserva um número considerável de páginas em sua obra para discorrer sobre as fontes existentes no parque, anotando que por volta de 1873 os chalés eram toscos e as águas eram conduzidas até a superfície através de tubos de ferro ou por canais feitos por tijolos, cujas aberturas ficavam abaixo do nível do solo, de modo que, nas ocasiões das grandes chuvas, as águas das enxurradas inundavam os tubos de descarga e misturavam-se às águas que brotavam das fontes, inutilizando-as durante vários dias. Por ocasião de sua estada em Caxambu, os chalés haviam sido reconstruídos, protegendo melhor as fontes. Além das fontes D. Leopoldina, D. Pedro, Duque de Saxe e Intermitente, o Dr. Monat lembrou que havia uma fonte entre a D. Pedro e a Duque de Saxe, que denominavam de D. Thereza (não confundir com outra que também originariamente levou o nome de D. Thereza e depois foi chamada de Ernestina Guedes) e que não havia mais vestígios da mesma. Hoje ali se encontra um belíssimo jardim.
Podemos, a seguir, visualizar os diversos chalés das fontes de águas minerais do parque das águas de Caxambu, encontrados quando da presença do Dr. Monat e dos estudos que faria para aquilatar o valor terapêutico de cada uma delas. As fotos são constantes da sua obra.

                                                   Duque de Saxe                      D. Isabel                   Conde D’Eu                     D. Pedro

   D. Leopoldina
         
O Dr. Monat descreveu com rara habilidade o processo de captação das águas minerais, citando exemplos ocorridos em outras regiões e o conhecimento acumulado por cientistas que se especializaram no estudo das águas minerais, como Constantin James, Bernard de Palissy,Victor Aud’houi e Filhol[1], autor de uma obra notável sobre as águas sulfurosas dos Pirineus. Observou que em Caxambu havia três troncos para esse estudo: o primeiro, de águas ferruginosas, ao qual pertencem as fontes D. Isabel e Conde D’Eu; o segundo tronco é o das águas gasosas simples, tendo como exemplo as fontes D. Pedro e Viotti e o terceiro tronco, o das águas ferruginosas ligeiramente sulfidricadas, onde estão as fontes Duque de Saxe, Leopoldina e a antiga Intermitente.
Na realidade, os três troncos são ramos de um só: o das águas gasosas, supersaturadas pelo ácido carbônico, que somente depois de trifurcados é que os ramos se modificam em composição e temperatura. Um interessante depoimento foi anexado pelo Dr. Monat em sua obra, da lavra do seu amigo particular o Dr. Souza Lima, falando sobre a fonte D. Thereza.
Os primeiros trabalhos nas fontes consistiam de cercá-las com paus e tábuas a pequena profundidade, para evitar o impacto com a lama que as cercava; assim o fizeram Oliveira Mafra em 1843 e o Dr. Luiz de Mello Brandão, em 1853, quando descobriu a fonte Duque de Saxe. Os melhores trabalhos de captação foram produzidos sob comando do Dr. Viotti, assim como a D. Pedro, a que posteriormente levaria o nome de Viotti, Isabel e Conde D’Eu. Na administração do conselheiro Mayrink seriam captadas a Duque de Saxe, a Leopoldina e as três outras que levariam posteriormente o nome do conselheiro. Ainda mostrou a profundidade de captação: D. Isabel (7,50m); Conde D’Eu (7m); Duque de Saxe (11m) e Intermitente (45m). Fez uma comparação das águas com o ano de 1873 (quando foram anotadas pelo coronel Fulgêncio).[2]


Captação da fonte Duque de Saxe

Sob as escavações, testemunhas oculares informaram ao Dr. Monat que a estratificação do terreno era mais ou menos uniforme: após uma camada de argila, aparecida outra, de um metro mais ou menos de espessura, de turfa, segunda de argila, uma camada insignificante de caolim, enfim, areia, cascalho e a rocha, cuja consistência não era a mesma em toda a extensão da bacia. Em algumas fontes a turfa quase não existia, de modo que se encontrava logo areia e rocha, separada da argila por pequena camada de terreno de aluvião.
E fala que as águas de Caxambu estão em um lugar privilegiado, onde a possibilidade de serem obstruídas é ínfima, salvo um cataclismo, o que não aconteceu em Bagnêres de Luchon, em 1616; em Vijama, Portugal, em 1751, que dada a violência do terremoto, alterou fontes de diversas localidades da Europa, assim como Aix, na Saboia, onde as águas tornaram-se frias. O Dr. Monat insiste que só um cataclismo desse nível poderia destruir ou alterar as fontes de Caxambu, ou então, mas modestamente, a persistência dos erros que cotidianamente comete a Câmara Municipal de Baependi![3]




[1] Bernard Palissy era geólogo, químico e escritor, nascido em Agen, Lacapelle-Biron, França. Demonstrou grande interesse por geologia, publicou trabalhos sobre a origem das águas dos rios, sobre poços artesianos e sobre construção de fontes para abastecimentos de água domésticos. Na hidrologia concebeu uma teoria da infiltração pela qual as águas das fontes e nascentes eram infiltradas que tinham como origem as precipitações sobre a superfície dos terrenos. 
Antoine Pierre Henri Filhol em 1853 escreveu Eaux minérales des Pyrénées; em 1866 escreveu Âge de la pierre polie dans les cavernes des Pyrénées ariégeoises.
[2] O coronel Fulgêncio de Castro é talvez aquele que primeiro escreveu sobre a composição química das águas de Caxambu, com base, evidentemente, em laudos periciais que começaram a ser realizados no final da década de 1860, a pedido do governo imperial. Sua obra Guia para uma viagem às águas medicinais de Caxambu, província de Minas Gerais, foi publicada no Rio de Janeiro no ano de 1873.
[3] Caxambu, p. 133.