120 anos de uma
grande obra: Caxambu
Parte III
Sobre as fontes
O
Dr. Monat reserva um número considerável de páginas em sua obra para discorrer
sobre as fontes existentes no parque, anotando que por volta de 1873 os chalés
eram toscos e as águas eram conduzidas até a superfície através de tubos de
ferro ou por canais feitos por tijolos, cujas aberturas ficavam abaixo do nível
do solo, de modo que, nas ocasiões das grandes chuvas, as águas das enxurradas
inundavam os tubos de descarga e misturavam-se às águas que brotavam das
fontes, inutilizando-as durante vários dias. Por ocasião de sua estada em
Caxambu, os chalés haviam sido reconstruídos, protegendo melhor as fontes. Além
das fontes D. Leopoldina, D. Pedro, Duque de Saxe e Intermitente, o Dr. Monat
lembrou que havia uma fonte entre a D. Pedro e a Duque de Saxe, que denominavam
de D. Thereza (não confundir com outra que também originariamente levou o nome
de D. Thereza e depois foi chamada de Ernestina Guedes) e que não havia mais
vestígios da mesma. Hoje ali se encontra um belíssimo jardim.
Podemos,
a seguir, visualizar os diversos chalés das fontes de águas minerais do parque
das águas de Caxambu, encontrados quando da presença do Dr. Monat e dos estudos
que faria para aquilatar o valor terapêutico de cada uma delas. As fotos são
constantes da sua obra.
Duque de Saxe D. Isabel Conde D’Eu D. Pedro
D. Leopoldina
O
Dr. Monat descreveu com rara habilidade o processo de captação das águas
minerais, citando exemplos ocorridos em outras regiões e o conhecimento
acumulado por cientistas que se especializaram no estudo das águas minerais,
como Constantin James, Bernard de Palissy,Victor Aud’houi e Filhol[1],
autor de uma obra notável sobre as águas sulfurosas dos Pirineus. Observou que
em Caxambu havia três troncos para esse estudo: o primeiro, de águas
ferruginosas, ao qual pertencem as fontes D. Isabel e Conde D’Eu; o segundo
tronco é o das águas gasosas simples, tendo como exemplo as fontes D. Pedro e
Viotti e o terceiro tronco, o das águas ferruginosas ligeiramente
sulfidricadas, onde estão as fontes Duque de Saxe, Leopoldina e a antiga
Intermitente.
Na
realidade, os três troncos são ramos de um só: o das águas gasosas,
supersaturadas pelo ácido carbônico, que somente depois de trifurcados é que os
ramos se modificam em composição e temperatura. Um interessante depoimento foi
anexado pelo Dr. Monat em sua obra, da lavra do seu amigo particular o Dr.
Souza Lima, falando sobre a fonte D. Thereza.
Os
primeiros trabalhos nas fontes consistiam de cercá-las com paus e tábuas a
pequena profundidade, para evitar o impacto com a lama que as cercava; assim o
fizeram Oliveira Mafra em 1843 e o Dr. Luiz de Mello Brandão, em 1853, quando
descobriu a fonte Duque de Saxe. Os melhores trabalhos de captação foram
produzidos sob comando do Dr. Viotti, assim como a D. Pedro, a que
posteriormente levaria o nome de Viotti, Isabel e Conde D’Eu. Na administração
do conselheiro Mayrink seriam captadas a Duque de Saxe, a Leopoldina e as três
outras que levariam posteriormente o nome do conselheiro. Ainda mostrou a
profundidade de captação: D. Isabel (7,50m); Conde D’Eu (7m); Duque de Saxe
(11m) e Intermitente (45m). Fez uma comparação das águas com o ano de 1873
(quando foram anotadas pelo coronel Fulgêncio).[2]
Captação da fonte Duque de Saxe
Sob
as escavações, testemunhas oculares informaram ao Dr. Monat que a
estratificação do terreno era mais ou menos uniforme: após uma camada de
argila, aparecida outra, de um metro mais ou menos de espessura, de turfa,
segunda de argila, uma camada insignificante de caolim, enfim, areia, cascalho
e a rocha, cuja consistência não era a mesma em toda a extensão da bacia. Em
algumas fontes a turfa quase não existia, de modo que se encontrava logo areia
e rocha, separada da argila por pequena camada de terreno de aluvião.
E
fala que as águas de Caxambu estão em um lugar privilegiado, onde a
possibilidade de serem obstruídas é ínfima, salvo um cataclismo, o que não
aconteceu em Bagnêres de Luchon, em 1616; em Vijama, Portugal, em 1751, que
dada a violência do terremoto, alterou fontes de diversas localidades da
Europa, assim como Aix, na Saboia, onde as águas tornaram-se frias. O Dr. Monat
insiste que só um cataclismo desse nível poderia destruir ou alterar as fontes
de Caxambu, ou então, mas modestamente, a persistência dos erros que
cotidianamente comete a Câmara Municipal de Baependi![3]
[1]
Bernard Palissy era geólogo, químico
e escritor, nascido em Agen, Lacapelle-Biron, França. Demonstrou grande
interesse por geologia, publicou trabalhos sobre a origem das águas dos rios,
sobre poços artesianos e sobre construção de fontes para abastecimentos de água
domésticos. Na hidrologia concebeu uma teoria da infiltração pela qual as águas
das fontes e nascentes eram infiltradas que tinham como origem as precipitações
sobre a superfície dos terrenos.
Antoine Pierre
Henri Filhol em 1853 escreveu Eaux
minérales des Pyrénées; em 1866 escreveu Âge de la pierre polie dans les cavernes des
Pyrénées ariégeoises.
[2] O coronel Fulgêncio de Castro é
talvez aquele que primeiro escreveu sobre a composição química das águas de
Caxambu, com base, evidentemente, em laudos periciais que começaram a ser
realizados no final da década de 1860, a pedido do governo imperial. Sua obra Guia para uma viagem às águas medicinais de
Caxambu, província de Minas Gerais, foi publicada no Rio de Janeiro no ano
de 1873.
[3] Caxambu, p. 133.