sábado, 4 de julho de 2009

PRESIDENTE DO CONSELHO REGIONAL DE ECONOMIA - MG APOIA JORNALISTAS E CRITICA GILMAR MENDES

O presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon/MG), Wilson Benício Siqueira, defendeu, em entrevista concedida aos repórteres Verônica Pimenta, da rádio Inconfidência, e Itamar Mayrink, da CBN, a formação superior em jornalismo, como condição necessária para que seja garantido o compromisso ético da imprensa com a verdade e com a sociedade. O economista acredita que posturas demonstradas pelo ministro do Supremo, Gilmar Mendes, são questionáveis. Ao defender a desregulamentação das profissões no Brasil, o presidente do STF estaria fugindo à “estatura do cargo que ele ocupa”.

Confira a íntegra da entrevista.

Verônica Pimenta - Qual a posição do senhor com relação à decisão do STF no último dia 17?

Não há posição formada do Conselho Regional de Economia. É uma posição de alguns membros do Conselho. Nós somos nove membros efetivos, uma boa parte desses conselheiros confere a importância do diploma para exercer a profissão de jornalista. Porque as faculdades hoje preparam o cidadão para a questão ética, da construção histórica do jornalismo brasileiro, dão toda uma estrutura, uma base ao formando, para ele exercer a profissão.

Verônica Pimenta - Muitas pessoas que se posicionaram favoravelmente à decisão disseram que o debate é simplesmente uma questão de reserva de mercado para os jornalistas. Como o senhor avalia esta posição?

Eu não acho que é reserva. Todas as profissões têm diploma: o médico, o engenheiro, o próprio advogado. A maior reserva inclusive no Brasil é para os advogados. O cidadão comum não pode exercer nenhuma função dentro de um fórum, dentro de um tribunal, tem que ser representado por um advogado. Hoje a OAB, por exemplo, tem até orçamento próprio (...)

O importante nesta discussão é a seriedade na construção de um País. As escolas hoje têm compromisso com a formação ética do cidadão. Então, o diploma de jornalismo também carrega esse compromisso. Sobre exercer o jornalismo, eu acho que qualquer profissional hoje pode escrever um artigo sobre sua profissão, ou sobre a realidade do País, ou sobre qualquer canto que ele atua, diverso muitas vezes da sua profissão. Isso não impede que o jornalismo seja construtivo no Brasil. O que se discute é que o diploma é necessário para a construção deste cidadão jornalista. Essa que é a discussão. Mas não impede nenhum cidadão brasileiro de participar na televisão, no rádio, enfim, em toda a mídia brasileira.

Verônica Pimenta - A sociedade está mobilizada com esta questão, e vem discutindo, inclusive, a possibilidades de um Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para regulamentar a profissão de jornalista. O senhor atua num Conselho Regional. Qual é a importância de uma regulamentação da profissão?

A importância é para dar segurança à sociedade quanto ao profissional. O cidadão formado em Ciências Econômicas tem o compromisso com a sociedade brasileira, com a comunidade naquilo que ele atua.

Verônica Pimenta - Então não se aprende ética no mercado e sim na escola?

Também se aprende no mercado. As relações, primeiro, têm que ser éticas. Você não pode comprar um produto e depois não paga-lo. Você não pode ter um trabalho e não trabalhar, morar numa cidade e destrui-la, dirigir um automóvel pondo em risco os outros cidadãos, ou desrespeitar a lei de um país. Todos somos iguais perante a lei.

Verônica Pimenta - Mas se a ética também é aprendida no mercado, qual a importância da formação específica em jornalismo, curso superior no caso?

A ética não é aprendida no mercado, mas nas relações humanas, na família, na sociedade, no trabalho e também dentro das faculdades. ... Ela é construtiva... O profissional jornalista carrega um compromisso ético com a verdade. Ele não pode fazer um jornalismo de compromisso comprado ou vendido. Ele tem um compromisso com a sociedade. É aí que a questão ética é muito importante para o jornalista, como para o médico, engenheiro, como para qualquer cidadão. Essa é uma questão muito importante. Então não podemos focar simplesmente o diploma. É a construção desse jornalista para a sociedade brasileira.

Itamar Mayrink - O presidente do Supremo disse que essa decisão pode abrir brecha para a desregulamentação de outras profissões. Os economistas temem isso?

Ele (Gilmar Mendes) foge muito à postura de um ministro do Supremo. Ele vem intervindo em várias áreas, de vários tons e necessidades da sociedade, que não são dele ... Ele é um ministro. Deveria ter uma postura um pouco mais reservada... no sentido de dizer: desregulamentar o quê? A formação do profissional é para responder a sociedade! A sociedade quer um médico formado na faculdade, estudado e com grande conhecimento do corpo humano. A sociedade quer um jornalista que tenha uma construção sobre a história do jornalismo brasileiro e um compromisso com a (própria) sociedade, como quer um economista, um advogado, e todos os demais profissionais deste País. Então o ministro não pode dizer que tem que desregulamentar outras profissões. Eu acho que isso foge um pouco à estatura do cargo que ele ocupa, (ele) devia ter mais cuidado.

A sociedade brasileira hoje quer, sim, discutir para onde vamos, queremos moralmente e eticamente corrigir os poderes. A Justiça nos deve muito! O Legislativo nos deve muito! A governabilidade neste País deve muito à sociedade brasileira. Isso é que nós queremos melhorar, porque nós pagamos nossos tributos. Queremos saúde plena, transporte correto, estradas boas, comunicação barata e boa, que a mais cara do planeta é a do Brasil... Então o respeito que o ministro deve ter é com o cidadão e com o profissional formado neste País. Como você vai a um médico e ele diz para você que não fez faculdade de Medicina? Como você vai a um advogado – que o ministro também é – e ele diz: “eu não fiz faculdade nenhuma, e exerço a profissão, e nem ler eu conheço?” Imagina, isso é um absurdo!

Itamar Mayrink - A discussão vem muito em cima da desvalorização do profissional, que sempre as empresas se utilizam disso, para contratar o profissional sem a devida formação. É mais ou menos por aí que a discussão deve caminhar?

Essa é uma discussão que ... muitos acreditam que a desregulamentação, a não necessidade de diploma, favorece aos grandes grupos de comunicação no Brasil. Eu acredito que não. Sabe o que acredito? Que o bom jornalista vai ser forjado também dentro da faculdade, da Universidade, dentro da sociedade. O bom jornalista carrega com ele o compromisso ético, enquanto a verdade tem que ser exposta. É isso que a sociedade quer. Bobos ou ingênuos aqueles que acham que vão aproveitar da não necessidade do diploma dos jornalistas para enfraquecer a categoria. Eu não acredito nisso. Os jornalistas no Brasil - e os jornalistas - são muito fortes A sociedade está com os jornalistas. A sociedade tem o compromisso com a informação neste País. E os jornalistas são filhos deste País, estão dentro do nosso campo de atuação. Como pode descaracterizar o jornalista brasileiro, quando ele é um grande profissional da informação? E quem vive hoje sem informação? É a informação que hoje muda o mundo, mais rápida, mais precisa e direta. Que sociedade hoje pode dispensar o jornalista? Nenhuma.