terça-feira, 8 de setembro de 2015

COLUNA


Afinal, que independência comemoramos?

Um dos últimos países da América Latina a se tornar independente, o Brasil foi, com a exceção do México, o único a ter como governante direto um imperador que, contrariando toda a expectativa europeia, colocava-se ao lado das forças nacionalistas para a independência desta colônia portuguesa.
 Ao se comemorar mais um ano de emancipação política, muitos são os questionamentos que se fazem acerca do tema e, principalmente, acerca do que se tornou independente e de quem. Na realidade, o tema já vem de ser explorado há dezenas de anos, rebuscado por historiadores, sociólogos, e tantos outros pesquisadores que se debruçaram sobre a condição determinada em 1822, por D. Pedro I.


No entanto, a cada ano que passa, observamos que mais e mais os brasileiros se tornam descuidados com relação ao seu passado, já não digo remoto, mas até mesmo o passado imediato. Então, como se fazer uma comemoração patriótica se o brasileiro não está suficientemente informado de sua História. O simples ato de desfraldar os laços que nos uniam a Portugal deveria representar muito para a criação da nacionalidade brasileira. Da mesma forma que a Revolução de Avis uniu os interesses burgueses com os ideais da nobreza portuguesa, após a famosa Batalha de Aljubarrota em 1385, forjando a noção de Estado Nacional Português, assim também D. Pedro I deveria passar à memória nacional como um traço de união da brasilidade que se montava naquele momento e naquele cenário, com homens que acreditavam numa nação brasileira.
 Não restam dúvidas de que, e a farta documentação de época nos mostra isso, a pressão das Cortes portuguesas era muito grande com relação ao herdeiro da Coroa e, por isso mesmo, sentia-se no ar um sentimento de recolonização, ainda mais que muito recentemente Portugal havia sido surpreendido com a insurreição mineira de Tiradentes, o que poderia provocar, ao seu modo de ver, mais desatinos nacionalistas contra o domínio lusitano nestas terras.
 Ora, D. Pedro foi o ideal do nacionalismo que se nos apresentou na ocasião e, muito prudentemente, de sangue e nome nobres, o que garantiria, em última instância, a permanência da dinastia de Bragança no poder quer europeu, quer americano. O valor daquele que se insurgiu contra o parlamento português está muito mais no próprio sentido de nacionalidade que se tentava imprimir ao Brasil, do que mesmo no seu sentido aventureiro, como mesmo já o previra seu pai, o rei D. João VI.
 D. Pedro I, efetivamente, não era um aventureiro, mas encarnava em si o espírito de brasilidade dos aventureiros que, ao contrário dele, naufragaram na tentativa de rasgar de vez o pacto colonial traçado pela mãe-pátria, e por isso mesmo deve ser lembrado e homenageado.
Saudemos, pois, cada ano da independência do Brasil com esperança. Esperança que haja, principalmente no país, a tão sonhada e propalada justiça social. Que saia da letra fria e desumana estampada em leis e regulamentos e aflore realmente como uma verdade inquestionável: o brasileiro em todos os níveis necessita urgentemente de justiça social.