Por Letícia“ ‘Você fugiu de mim?’
‘Não, eu acho que fugi de mim mesmo’_ a clássica sentença surpreendendo minha serena tarde de verão.
Fugir... Por que mesmo fugimos? de quem? e para quem?
De medos antigos. Para razões conhecidas. Por nenhuma (aparente) razão. Às vezes em fuga, encontramos outros ‘criminosos’ tão inocentes ou tão culpados_ anjos expulsos do céu, seres perdidos do paraíso. Sem lugar para ficar.
Procuro um lugar para ficar. Fujo? mas de quê? e para onde?
‘De mim mesmo,’ insiste a voz em minha lembrança. ‘De mim,’ ecoa em meus sentidos à espera da máxima culpa ou plena absolvição. E então confesso_ no vazio de indulgências_ o medo que senti. Eu que não fui fuga, mas fui razão (ainda que sem razão), o motivo (não sei se sem motivo).
Descubro assim que os outros também fogem_ o tempo todo. De medos reais, irreais, virtuais, de pessoas indesejadas, desejadas, visitas não esperadas, de amores, ex-amores, dissabores, sabores, do que causa alegria e tristeza, provoca dor e prazer e principalmente, de si mesmas.
Novamente a voz bem precisa (em um carecer profundo) aos meus ouvidos.
Agora vejo que também fugi_ depois daquela tarde não mais falamos de fugas em massa ou solitárias, de helicóptero, a pé, a cavalo, com testemunhas oculares (ou não), sob a agitação de sirenes piscantes, o silêncio ou o torpor de incertezas multiplicadas. O nosso olhar, desde então, como vaga fugidia a se entranhar em um mar silencioso de palavras. (Elas anseiam por emergir.)
Na próxima vez (ao vivo ou a cores) terão sua chance. De fugir ou se insistir nas frestas, em uma espécie de rebelião às avessas_ fugir de fugir. Não ‘de mim’, mas de nós mesmos.”

Letícia
Roberta Nogueira