Ruas de Caxambu
Paulo Alves
A rua Paulo Alves, localizada no bairro Santa Cruz, e assim denominada pelo decreto de 11 de junho de 1894, por decisão do Conselho Distrital, “começava na casa do Philomeno Nascimento e terminava na casa do Silvestre”.
Paulo Ferreira Alves nasceu em Niterói em 27 de novembro de 1850. Engenheiro civil formado no ano de 1868 pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro e, no mesmo estabelecimento de ensino superior, colou grau como geógrafo, no ano de 1872. Durante o tempo em que frequentou os bancos escolares daquela instituição, teve a oportunidade de conhecer professores como seu conterrâneo Benjamin Constant, propagandista do positivismo no ensino das escolas brasileiras e fervoroso adepto do republicanismo.
Com essa importante contribuição em sua formação intelectual, Paulo Alves colaborou ativamente no jornal literário “O Argos” editado em Niterói por Celestino Gomes de Oliveira e Antônio de Melo Muniz Maia.
Depois de formado, exerceu a função de engenheiro civil na Estrada de Ferro Minas & Rio, rede ferroviária esta que seria posteriormente incorporada à Central do Brasil. Foi exatamente quando estava no exercício dessa função que seria contratado pelo governo provincial de Minas Gerais para, juntamente com o Dr. Antonino Polycarpo de Meirelles Enout, darem início à construção de um tramway de bitola de sessenta centímetros, que partindo do ponto mais conveniente da Estrada de Ferro Minas and Rio, passando pelas águas de Caxambu, vá terminar na cidade de Baependi. O privilégio, objeto da Lei nº 3.345, de 9 de outubro de 1885, era concedido por 40 anos; ao final desse prazo o tramway (um trenzinho que servia para o transporte de cargas e, nos domingos e feriados, a ela era atrelado um carro de passeio) com o todo o seu material fixo e rodante passaria a ser propriedade da província. Também na mesma lei estipulava-se que os referidos contratados estariam isentos do pagamento de direitos para todo o material que importassem na província, para a construção e o tráfego do tramway e autorizados a fazerem desapropriações de terrenos e benfeitorias que fossem necessárias à construção da linha férrea.
No ano de 1888, Paulo Alves também ganhou um contrato com o governo provincial do Rio de Janeiro para a construção de uma ferrovia que ligasse Angra dos Reis à Grota Grande, na divisa com São Paulo, empreitada que não se concluiria, haja vista as implicações políticas que passaram a existir com a chegada da República no Brasil, transferindo os direitos que lhe foram concedidos para a Estrada de Ferro de Resende à Bocaina, em 1890.
Também em 1890 participaria da concorrência para a construção da rede de esgotos da cidade de Niterói e, no ano seguinte, estaria novamente envolvido com o governo de Minas Gerais: da mesma forma que anteriormente ocorrera, a iniciativa do Dr. Antonino Polycarpo de Meirelles Enout traria para Caxambu o Dr. Paulo Alves, e com ele chegava definitivamente a Estrada de Ferro Sapucaí, ligando Soledade de Minas a Caxambu, mais precisamente no dia 15 de março de 1891, finalizando-se o entendimento iniciado por determinação da Lei provincial nº 3.345, de 9 de outubro de 1885. Nesse mesmo ano fora construída a estação ferroviária de Caxambu, demolida em 1948. Infelizmente, a estrada de ferro em Caxambu foi desativada no início da década de 1970.
A amizade existente entre Paulo Alves e o Dr. Enout, além da significativa contribuição que deram para Caxambu em termos de ligação ferroviária, iria mais além: em 1902, por influência deste último, a prefeitura da novel cidade contrataria o Dr. Paulo Alves para a organização de uma empresa que instalasse um moderno balneário no Parque das Águas, infelizmente, debalde os esforços, considerando que o parque seria encampado pelo governo de Minas Gerais no ano de 1904.
Retornando ao Rio de Janeiro, o Dr. Paulo Alves assumiu a presidência do Banco Hipotecário do Brasil, exercício no qual estava quando do chamamento do então presidente do estado do Rio de Janeiro, Nilo Peçanha, para que assumisse, pioneiramente, a Prefeitura Municipal de Niterói, criada pelo Decreto nº 833, de 4 de janeiro de 1904. Paulo Alves foi o primeiro prefeito daquela cidade fluminense.
Homem afeito ao trabalho sério e dedicado, não conhecia, no entanto, os meandros da política partidária e, já a partir da primeira mensagem enviada à Câmara de Vereadores, solicitando autorização para contrair um empréstimo externo visando a execução de obras básicas na cidade, sentiria a má vontade dos edis que não comungavam com a política do governador Nilo Peçanha. Foram apenas dez meses de mandato – 5 de janeiro a 9 de novembro de 1904 -, mas num curto espaço de tempo promoveu a revisão da planta da rede de esgotos, que seria, afinal, concluída em 1912; da mesma forma que Pereira Passos arrojava-se em planos radicais para a cidade do Rio de Janeiro, Paulo Alves também projetou a abertura e urbanização da Alameda São Boaventura, uma importante via de ligação da urbe com a sua zona interior; criou o serviço de Higiene Defensiva e a Polícia Sanitária, ambos reunidos posteriormente sob a denominação de Diretoria Municipal de Higiene.
Um dos seus principais biógrafos, o Dr. Emmanuel de Macedo Soares deixou-nos informações precisas sobre a grande obra de Paulo Alves: incorporou ao município os Hospitais de Isolamento do Barreto (atual Ari Parreiras) e São João Batista; instituiu o Centro de Serviços Municipais, abrangendo o Corpo de Bombeiros, o Departamento de Limpeza Urbana e os serviços de Arborização e Apreensão de Animais; reconstruiu o Teatro Municipal; restaurou a Praça General Gomes Carneiro e o Monumento à Memória; obteve da Companhia Cantareira a recuperação do Parque da Vicência, no Fonseca; elaborou estudos para construção do Matadouro, do Mercado Municipal, do Campo de São Bento e de uma série de vilas operárias que deveriam substituir os cortiços que se espalhavam pela cidade.
Paulo Alves esteve algum tempo em Paris, antes do exercício do cargo de prefeito e dali trouxera a ideia que começava a tomar corpo naquela cidade: foi ele o primeiro prefeito a falar em proteção ao meio ambiente e na exploração do potencial turístico de áreas como a região oceânica, que desejava ligar ao centro da cidade e a outros bairros. Nessa esteira surgira a ideia de se criar na orla de Icaraí e São Francisco uma estação balneária, ideia esta que trazia de sua também experiência na cidade de Caxambu, ainda que ali não houvesse levado a efeito a empreitada pelas razões acima mencionadas.
Paulo Alves, assim como Pereira Passos no Rio de Janeiro e, por que não, Camilo Soares em Caxambu, era um homem extemporâneo, com visões avançadas para a sociedade da época. Pretendia dar uma cara completamente nova a Niterói, incentivando o gosto pela arte e promovendo a cultura e a educação dos jovens, com a abertura de museus e escolas profissionalizantes. Pensava numa cidade arborizada e salubre, enxergava como poucos o grande potencial turístico de Niterói, que necessariamente incluía a sua orla marítima que deveria ser explorada com bom senso e equilíbrio urbanístico. Projetou, dada a sua qualificada profissão de engenheiro, vias de acesso ao interior da cidade, levando não só o prolongamento da Estrada de Ferro Leopoldina como também o projeto de reflorestamento de matas nativas, premiando os proprietários que promovessem tal empreitada. São extensas as linhas de ação que enviara à Câmara de Vereadores quando de sua assunção no cargo de prefeito; no entanto, forças políticas mais poderosas que a sua e a do próprio governador, baldaram os esforços e as ideias que pretendia implantar em Niterói, tendo, também contra si, os candentes editoriais de Francisco Rodrigues de Miranda, fundador e proprietário do jornal “O Fluminense”, considerado o crítico mais feroz da administração de Paulo Alves.
Em 1907, o projeto que idealizara em sua curta gestão, contratou com a prefeitura a execução das obras da Estação Balneária de Icaraí, destinada a implantar hotéis, cassinos, praças de esportes e outros centros de diversão e lazer na orla marítima. Contudo, da mesma forma que lhe sucedeu na estância hidromineral sul mineira de Caxambu, também não concluiria seu projeto em Niterói, pois a morte lhe sobreveio, na cidade do Rio de Janeiro, em 16 de junho de 1908, bastante desgostoso com a política e, sobretudo, com o precoce falecimento de sua esposa: Paulo Alves era casado com Maria Mercedes Paranhos Alves, esta também nascida em Niterói em 17 de julho de 1860 e falecida no Rio de Janeiro em 15 de fevereiro de 1908. O casal não teve filhos.
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* Historiador e residente na rua Paulo Alves